O Conceito de Esclarecimento



Aparentemente o capitalismo venceu em toda a linha. E isso não só como poder exterior repressivo, mas até no interior dos próprios sujeitos. A aparente "lei natural" do mercado e a universalidade negativa da concorrência são vividas como condições inultrapassáveis da existência humana, apesar dos seus efeitos devastadores, humilhantes e insuportáveis. Quanto mais claro fica que essa ordem social planetária resulta em autodestruição social e ecológica, mais obstinadamente os indivíduos se agarram às categorias e critérios dessa forma negativa de socialização que interiorizaram. Na mesma medida em que a racionalidade burguesa se dissolve na barbárie prevenida por Marx, o pensamento social recusa qualquer reflexão crítica, e invoca uma "civilização" capitalista, que só existiu como progresso positivo na apologética ideológica. O poder militar da polícia mundial capitalista não soluciona problema nenhum e apenas potencializa o caos destrutivo e a falta de perspectivas. O capitalismo só venceu na forma da sua própria crise, que no entanto se tornou a crise dos mesmos famosos "sujeitos actuantes", e por isso já não parece abrir nenhuma via de emancipação social. A nova qualidade da crise paralisa a crítica, em vez de a mobilizar...
Uma coexistência pacífica com o modus dissociativo "masculino" da elaboração teórica está excluída. Assim sendo, para a forma do sujeito moderna, capitalista e "ocidental", que de qualquer modo já apenas existe nas respectivas formas de decadência, não deve crescer nada que a salve se for para a emancipação da relação de coacção destruidora do mundo, que é a socialização do valor, constituir uma opção séria. Provavelmente isto até nem suscita controvérsia; mas nesse caso a crítica do sujeito não deveria ser apenas mantida coerente, mas também deveria ser cautelosamente delimitada em termos conceptuais, face a outras questões que dizem respeito a conquistas culturais da Humanidade de um modo geral. Há que fazer tábua rasa com a forma do sujeito capitalista e ocidental e com a vinculação a uma forma de fetiche em termos gerais, mas, lá por isso, não com tudo e qualquer coisa que a Humanidade tenha produzido até à data apesar da sua vinculação fetichista e através da mesma.

No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objectivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal...
EXCURSO I
Ulisses ou Mito e Esclarecimento
Assim como o episódio das sereias mostra o entrelaçamento do mito e do trabalho racional, assim também a Odisseia em seu todo dá testemunho da dialéctica do esclarecimento. Sobretudo em seus elementos mais antigos, a epopeia mostra-se ligada ao mito: as aventuras têm origem na tradição popular. Mas, ao se apoderar dos mitos, ao "organizá-los", o espírito homérico entra em contradição com eles. A assimilação habitual da epopeia ao mito - que a moderna filologia clássica, aliás, desfez - mostra-se à crítica filosófica como uma perfeita ilusão. São dois conceitos distintos, que marcam duas fases de um processo histórico nos pontos de sutura da própria narrativa homérica. O discurso homérico produz a universidade da linguagem, se já não a pressupõe. Ele dissolve a ordem hierárquica da sociedade pela forma exotérica de sua exposição, mesmo e justamente onde ele a glorifica...
EXCURSO II
Juliette ou Esclarecimento e Moral
Não ter escondido, mas espalhado por todo o mundo, a impossibilidade de fundar na Razão um argumento contra o assassínio, desencadeou o ódio com que mesmo os progressistas perseguem ainda hoje Sade e Nietzsche. Diversamente do Positivismo Lógico, ambos levam a ciência ao pé da letra"...A Indústria Cultural:
O esclarecimento como mistificação das massas
Na opinião dos sociólogos, a perda do apoio que a religião objectiva fornecia, a dissolução dos últimos resíduos pré-capitalistas, a diferenciação técnica e social e a extrema especialização levaram a um caos cultural. Ora, essa opinião encontra a cada dia um novo desmentido. Pois a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança. O cinema, o rádio e as revistas constituem um sistema. Cada sector é coerente em si mesmo e todos o são em conjunto. Até mesmo as manifestações estéticas de tendências políticas opostas entoam o mesmo louvor do ritmo de aço.Elementos do Anti-Semitismo:
Limites do esclarecimento
Actualmente, o anti-semitismo é considerado por uns como uma questão vital da humanidade, por outros como mero pretexto. Para os fascistas, os judeus não são uma minoria, mas a anti-raça, o princípio negativo enquanto tal; de sua exterminação dependeria a felicidade do mundo. No extremo oposto está a tese de que os judeus, livres de características nacionais ou raciais, formariam um grupo baseado na opinião e na tradição religiosas e nada mais. Só se poderia falar de características judaicas a propósito dos judeus orientais e, em todo caso, unicamente a propósito dos que ainda não foram inteiramente assimilados. Ambas as doutrinas são verdadeiras e falsas ao mesmo tempo.NOTAS E ESBOÇOS
CONTRA OS QUE TÊM RESPOSTA PARA TUDO
Uma das lições que a era hitlerista nos ensinou é a de como é estúpido ser inteligente. Quantos não foram os argumentos bem fundamentados com que os judeus negaram as chances de Hitler chegar ao poder, quando sua ascensão já estava clara como o dia! Tenho na lembrança uma conversa com um economista em que ele provava, com base nos interesses dos cervejeiros bávaros, a impossibilidade da uniformização da Alemanha.
Outros Textos
"MEU PENSAMENTO SEMPRE ESTEVE NUMA RELAÇÃO MUITO INDIRETA COM A PRÁTICA"
SOBRE SUJEITO E OBJETO
Se a estrutura dominante da sociedade reside na forma da troca, então a racionalidade desta constitui os homens; o que estes são para si mesmos, o que pretendem ser, é secundário. Eles são deformados de antemão por aquele mecanismo que é transfigurado filosoficamente em transcendental.
NOTAS MARGINAIS SOBRE TEORIA E PRAXIS
A práxis nasceu do trabalho. Alcançou seu conceito quando, o trabalho não mais se reduziu a reproduzir diretamente a vida, mas sim pretendeu produzir as condições desta: isto colidiu com as condições então existentes. O fato de se originar do trabalho pesa muito sobre toda práxis.
EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ
Que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão;
CARTAS DE ADORNO E MARCUSE
A tua mais forte alegação consiste em dizer que a situação é tão horrível que se deve tentar quebrá-la, mesmo reconhecendo ser isso objetivamente impossível. Eu levo o argumento a sério.
A EDUCAÇÃO CONTRA A BARBÁRIE
A tese que gostaria de discutir é a de que desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia. O problema que se impõe nesta medida é saber se por meio da educação
EDUCAÇÃO – PARA QUÊ?
Uma das irracionalidades da pedagogia é que iniciativas pedagógicas decisivas são devidas a teorias totalmente equivocadas.
A ATUALIDADE da FILOSOFIA
Quem hoje em dia escolhe o trabalho filosófico como profissão, deve, de início, abandonar a ilusão de que partiam antigamente os projetos filosóficos.A ARTE É ALEGRE?
O prólogo ao Wallenstein, de Schiller, termina com o seguinte verso: "Séria é a vida, alegre é a arte". Foi inspirada pelos versos de Ovídio, em Tristia:TABUS ACERCA DO MAGISTÉRIO
A desbarbarização da humanidade é o pressuposto imediato da sobrevivência. Este deve ser o objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu alcance e suas possibilidades. E para isto ela precisa libertar-se dos tabus, sob cuja pressão se reproduz a barbárie.
Résumé sobre indústria cultural
Parece que a expressão "indústria cultural" foi empregada pela primeira vez na Dialética do esclarecimento**, que Horkheimer e eu publicamos em 1947, em Amsterdam. Em nossos esboços se falava em "cultura de massas". Substituímos esta expressão por "indústria cultural"
TELEVISÃO E FORMAÇÃO
Em primeiro lugar, compreendo "televisão como ideologia" simplesmente como o que pode ser verificado, sobretudo nas representações televisivas norte-americanas, cuja influência entre nós é grande, ou seja, a tentativa de incutir nas pessoas uma falsa consciência e um ocultamento da realidade.
IDEOLOGIA
Não só a autonomia mas a própria condição dos produtos espirituais de se tornarem autônomos são pensadas, com o nome de ideologia, em uníssono com o movimento histórico da sociedade. E nesta se desenvolvem os produtos ideológicos e suas funções.
A FILOSOFIA E OS PROFESSORES
Mas podemos exigir de uma pessoa que ela voe? É possível receitar entusiasmo, a condição subjetiva mais importante da filosofia, segundo Platão, que sabia do que estava falando?
O QUE SIGNIFICA ELABORAR O PASSADO
A pergunta "O que significa elaborar o passado" requer esclarecimentos. Ela foi formulada a partir de um chavão que ultimamente se tornou bastante suspeito. Nesta formulação. a elaboração do passado
REVENDO O SURREALISMO
A teoria amplamente difundida do surrealismo, como colocada nos Manifestos de Breton e também como dominante nos manuais de introdução, o relaciona com o sonho, o inconsciente, talvez até com os arquétipos de Jung, que, nas colagens e na escrita automática, teriam encontrado sua linguagem constituída de imagens e enfim liberta de relação com o "eu" consciente.Liderança democrática e manipulação de massas
Os conceitos de liderança e ação democrática estão tão profundamente envolvidos na dinâmica da moderna sociedade de massa que seu sentido não pode mais ser aceito como dado na presente situação.
Liderança democrática e manipulação de massas - (Theodor W. Adorno; 1951)
A Teoria freudiana e o modelo fascista de propaganda
Durante a década passada, a natureza e conteúdo das falas e panfletos dos agitadores fascistas norte-americanos foi submetida a intensa pesquisa por parte dos cientistas sociais. Alguns desses estudos, feitos na linha das análises de conteúdo, acabaram permitindo a feitura de uma apresentação abrangente da matéria no livro Prophets of Deceit, de Leo Lowenthal e Norbert Guterman.
A Teoria freudiana e o modelo fascista de propaganda - (Theodor W. Adorno; 1951)
Introdução à “A Personalidade Autoritária”
O assunto deste livro é a discriminação social mas seu propósito não é simplesmente acrescentar algumas descobertas empíricas a um corpo de informação já bastante extenso.
ADORNO PARA MANN
O filósofo por ele mesmo 5 de julho de 1948
Propaganda fascista e anti-semitismo
As observações contidas neste artigo baseiam-se em três estudos realizados pelo Projeto de Pesquisa sobre o Anti-semitismo, patrocinado pelo Instituto de Pesquisa Social na Universidade de Columbia.
A Técnica Psicológica das Palestras Radiofônicas de Martin Luther Thomas
A liderança fascista se caracteriza pela complacência para com as declarações palavrosas que faz sobre si mesma. Os propagandistas liberal e radical, ao contrário, desenvolveram a tendência de evitar qualquer referência à sua vida privada em favor dos interesses objetivos aos quais apelam. O primeiro, a fim de mostrar seu realismo e competência; o último, porque sua atitude coletivista poderia se ver ameaçada, se ele realça-se sua personalidade.
A Técnica Psicológica das Palestras Radiofónicas de Martin Luther Thomas - (Theodor W. Adorno; 1943)
A IDEIA DE HISTÓRIA NATURAL
Quero observar algo sobre a terminologia. Quando se fala de história natural, não se trata no caso de entendê-la em sentido tradicional pré-científico, nem como história da natureza à maneira como a natureza é objeto das ciências da natureza.
EXPRESSIONISMO E VERDADE
A enferrujada cerca de arame farpado que se estende entre a arte e a vida enlouquece; ambas se confundem o efeito dos grandes acontecimentos de nossa época.TEORIA DA SEMICULTURA
O que hoje se manifesta como crise da formação cultural não é um simples objeto da pedagogia, que teria que se ocupar diretamente desse fato, mas também não pode se restringir a uma sociologia que apenas justaponha conhecimentos a respeito da formação. Os sintomas de colapso da formação cultural que se fazem observar por toda parte, mesmo no estrato das pessoas cultas, não se esgotam com as insuficiências do sistema e dos métodos da educação, sob a crítica de sucessivas gerações. Reformas pedagógicas isoladas, indispensáveis, não trazem contribuições substanciais.TESES SOBRE RELIGIÃO E ARTE
A perdida unidade entre a arte e a religião, vista como um fato benéfico ou prejudicial, não pode ser recuperada por um ato de vontade.Outros Autores
CRÍTICA DO CAPITALISMO PARA O SÉCULO XXI
Com Marx para além de Marx: o Projecto Teórico do Grupo "EXIT!"
Desde o fim dos anos 80, assistimos em todo o mundo à agonia de marxismo, socialismo, movimento operário, movimentos de libertação nacional, e não só. Também o clássico Estado de Bem-Estar Social burguês está em dissolução, o paradigma keynesiano não passa agora duma nostalgia e os regimes do "desenvolvimento" no Terceiro Mundo desmoronam-se, até mesmo nas suas variantes pró-ocidentais. A antiga oposição entre reforma e revolução na esquerda torna-se supérflua, uma vez que já não existe um horizonte comum entre desenvolvimento e movimento social. Em toda parte as instituições que restam da antiga luta de interesses sociais içam a bandeira branca da rendição. O conceito de "reforma social" transformou-se no seu exacto oposto e foi semanticamente ocupado pela contra-reforma neoliberal, que aos poucos vai liquidando todas as conquistas sociais, sistemas de segurança social e serviços públicos. O paradigma neoliberal já não é uma posição diferente, mas um consenso suprapartidário, que atinge grande parte da esquerda. E a resistência torna-se cada vez mais fraca, até mesmo grandes greves e incendiários movimentos de massas terminam sistematicamente em derrota e resignação.Aparentemente o capitalismo venceu em toda a linha. E isso não só como poder exterior repressivo, mas até no interior dos próprios sujeitos. A aparente "lei natural" do mercado e a universalidade negativa da concorrência são vividas como condições inultrapassáveis da existência humana, apesar dos seus efeitos devastadores, humilhantes e insuportáveis. Quanto mais claro fica que essa ordem social planetária resulta em autodestruição social e ecológica, mais obstinadamente os indivíduos se agarram às categorias e critérios dessa forma negativa de socialização que interiorizaram. Na mesma medida em que a racionalidade burguesa se dissolve na barbárie prevenida por Marx, o pensamento social recusa qualquer reflexão crítica, e invoca uma "civilização" capitalista, que só existiu como progresso positivo na apologética ideológica. O poder militar da polícia mundial capitalista não soluciona problema nenhum e apenas potencializa o caos destrutivo e a falta de perspectivas. O capitalismo só venceu na forma da sua própria crise, que no entanto se tornou a crise dos mesmos famosos "sujeitos actuantes", e por isso já não parece abrir nenhuma via de emancipação social. A nova qualidade da crise paralisa a crítica, em vez de a mobilizar...
A HISTÓRIA COMO APORIA
Teses preliminares para a discussão em torno da historicidade das relações de fetiche
(2ª Série)
SINOPSE: 1. A abordagem da teoria da história para além do marxismo tradicional/ 2. A problemática do conceito de história como constructo moderno/ 3. Aporias solúveis e insolúveis/ 4. A crítica radical da modernidade não pode deixar de ter uma teoria da história/ 5. Dissociação e fetiche/ 6. Capitalismo e Religião/ 7. Sobre o conceito de relações de fetiche/ 8. Metafísica, transcendência e transcendentalidade/ 9. Da divisão de épocas ao relativismo da história/ 10.Alinhar com o processo de desmoronamento da filosofia burguesa da história?/ 11. Que significa pensar contra si mesmo?/ 12. A dialéctica da teoria da história em Adorno/ 13. Crítica do conhecimento da teoria da dissociação e crítica do conceito de história/ 14. Teoria negativa da história e programa de desontologização/ 15. Um novo conceito de unidade entre continuidade e descontinuidade/ 16. Conceitos afirmativos da reprodução e conceitos histórico-críticos da reflexão/ 17. Ruptura ontológica e "superavit crítico [kritischer Überschuss]"/ 18. Insuficiências e conteúdos de ideologia alemã, reaccionários, da hermenêutica da história/ 19. Fossilização ontológica como vingança da dialéctica/ 20. Consequências possíveis: pose neo-existencialista, decisionismo, reformismo neo-verde.(1ª Série)
SINOPSE: 1. A abordagem da teoria da história para além do marxismo tradicional/ 2. A problemática do conceito de história como constructo moderno/ 3. Aporias solúveis e insolúveis/ 4. A crítica radical da modernidade não pode deixar de ter uma teoria da história/ 5. Dissociação e fetiche/ 6. Capitalismo e Religião/ 7. Sobre o conceito de relações de fetiche/ 8. Metafísica, transcendência e transcendentalidade/ 9. Da divisão de épocas ao relativismo da história/ 10.Alinhar com o processo de desmoronamento da filosofia burguesa da história?/ 11. Que significa pensar contra si mesmo?/ 12. A dialéctica da teoria da história em Adorno/ 13. Crítica do conhecimento da teoria da dissociação e crítica do conceito de história/ 14. Teoria negativa da história e programa de desontologização/ 15. Um novo conceito de unidade entre continuidade e descontinuidade/ 16. Conceitos afirmativos da reprodução e conceitos histórico-críticos da reflexão/ 17. Ruptura ontológica e "superavit crítico [kritischer Überschuss]"/ 18. Insuficiências e conteúdos de ideologia alemã, reaccionários, da hermenêutica da história/ 19. Fossilização ontológica como vingança da dialéctica/ 20. Consequências possíveis: gesto neo-existencialista, decisionismo, reformismo neo-verde.Roswitha Scholz
Homo Sacer e "Os Ciganos"
O Anticiganismo – Reflexões sobre uma variante essencial e por isso "esquecida" do racismo moderno
1. Introdução: Anticiganismo – o racismo "esquecido"
O interesse pelo anticiganismo, isto é, pelo racismo específico contra os Sinti e os Roma, é marginal mesmo entre a esquerda. Alguns nem sequer sabem o que significa "anticiganismo". Wolfgang Wippermann escreve sobre o assunto: "Os meus colegas, professores e historiadores, não se debruçaram sobre os Sinti e os Roma por isso ter sido e continuar a ser considerado pouco elegante. Também a inteligência crítica falhou, pois demorou muito tempo até se dedicar a este aspecto da história alemã. O mesmo se aplica aos agrupamentos de esquerda aos quais o destino dos Sinti e Roma até hoje não tem suscitado muito interesse" (Wippermann, 1999, p. 106). E o mesmo se diga, infelizmente, dos contextos da crítica do valor. Como se a construção moderna do "cigano", enquanto avesso ao trabalho, sensual, "wild and free", não fosse de interesse precisamente para uma posição crítica do valor e do trabalho. Esquece-se que as próprias necessidades reprimidas não foram projectadas apenas sobre "exóticos", "negros" e "selvagens", algures em África ou nas Caraíbas, mas que "eles" já desde há séculos que se encontram bem juntinhos, por assim dizer no meio de nós: os "ciganos", como parte inseparável da própria cultura moderna e ocidental.
A Substância do Capital
O trabalho abstracto como metafísica real social e o limite interno absoluto da valorização.
Primeira parte: A qualidade histórico-social negativa da abstracção "trabalho".
O Absoluto [Absolutheit] e a relatividade na História. Para a crítica da redução fenomenológica da teoria social - O conceito filosófico de substância e a metafísica real capitalista - O conceito negativo de substância do trabalho abstracto na crítica da economia política de Marx - O conceito positivo do trabalho abstracto na ontologia do trabalho marxista - Para a crítica do conceito de trabalho em Moishe Postone - O trabalho abstracto e o valor como apriori social - O que é abstracto e real no trabalho abstracto? - O tempo histórico concreto do capitalismoTABULA RASA
Até onde é desejável, obrigatório ou lícito que vá a crítica ao Iluminismo?
A crítica da dissociação, a crítica do sujeito e a crítica do Iluminismo constituem uma unidade indivisível, não sendo qualquer destes momentos possível sem qualquer dos outros. É de um modo correspondente, que prescinda de simplificações abusivas, que a crítica tem de proceder se quiser concluir o novo paradigma crítico do valor e da dissociação – o que não equivale à conclusão da elaboração teórica em termos gerais, mas unicamente à conclusão preliminar da "destruição criadora" do velho paradigma. Podem e devem existir, sem dúvida, diversas posições, acentuações e aspectos no contexto da teoria crítica do valor e da dissociação; mas não podem existir lado a lado, em uma aleatoriedade quase que pós-moderna, sendo irremediavelmente opostas umas às outras, tendo antes de ser mutuamente compatíveis a um nível fundamental, o que também significa terem de comportar um carácter vinculativo comum.Uma coexistência pacífica com o modus dissociativo "masculino" da elaboração teórica está excluída. Assim sendo, para a forma do sujeito moderna, capitalista e "ocidental", que de qualquer modo já apenas existe nas respectivas formas de decadência, não deve crescer nada que a salve se for para a emancipação da relação de coacção destruidora do mundo, que é a socialização do valor, constituir uma opção séria. Provavelmente isto até nem suscita controvérsia; mas nesse caso a crítica do sujeito não deveria ser apenas mantida coerente, mas também deveria ser cautelosamente delimitada em termos conceptuais, face a outras questões que dizem respeito a conquistas culturais da Humanidade de um modo geral. Há que fazer tábua rasa com a forma do sujeito capitalista e ocidental e com a vinculação a uma forma de fetiche em termos gerais, mas, lá por isso, não com tudo e qualquer coisa que a Humanidade tenha produzido até à data apesar da sua vinculação fetichista e através da mesma.
ONTOLOGIA NEGATIVA
As eminências pardas do Iluminismo e a metafísica histórica da Modernidade
Talvez se pudesse objectar que uma condenação sumária dos pensadores do Iluminismo sujeitaria esses senhores a um tratamento que obedeceria a uma lógica identitária injustificada, como se eles se resumissem totalmente ao seu crime intelectual negativo. Até certo ponto teremos mesmo de comportar-nos em relação a eles dum modo assim tão supostamente "injusto" para finalmente nos livrarmos desta pesada hipoteca ideal. Tal como os democratas musculados, como se sabe, espalham a palavra de ordem "Nenhuma liberdade para os inimigos da liberdade" (referindo-se com isso, sem qualquer dúvida, mais à crítica emancipatória do que aos próprios familiares racistas), a crítica do valor e da dissociação poderia proceder segundo o mote: "Nenhuma isenção do processo da lógica identitária para os ideólogos da lógica identitária" porque, de outro modo, nunca mais nos vemos livres deles.
NEGATIVIDADE INTERROMPIDA
Notas sobre a crítica de Horkheimer e Adorno a Kant e ao Esclarecimento.
Razão Sangrenta
20 Teses contra o assim chamado Iluminismo e os "valores ocidentais"
Alfred SOHN-RETHEL
Trabalho espiritual e corporal Para a epistemologia da história ocidental
ATÉ A ÚLTIMA GOTA
Como o Esclarecimento tornou-se mito e a promessa de liberdade converteu-se em 'total empulhação das massas' Todas as monstruosidades da história retornam sob a máscara das ''coerções'' liberais
SIC TRANSIT GLORIA ARTIS O "fim da arte" segundo Theodor W. Adorno e Guy DebordMas será que o monstruoso aparelho científico e pseudocientífico da repressão, unido à incessante recriação dos desejos e das satisfações destinadas a tornar a servidão tolerável poderão indefinidamente mascarar o caráter destruidor do sistema e os meios de abolí-lo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário