Não foram poucos os militantes de base envolvidos nesta campanha eleitoral, motivados também pela enorme rejeição que representou o Governo corrupto e repressivo de Yeda Crusius e seus aliados. Porém, a vitória de Tarso tampouco representa a derrota do projeto neoliberal traçado a longo prazo para o Estado. Para fazermos uma projeção lúcida do que representará os próximos 4 anos com o PT e Tarso Genro no Estado, distante da euforia, é importante relembrar o que representou o partido no governo do RS (período 1999-2002) e ainda Tarso na Prefeitura de Porto Alegre (período 2000-2004 junto com Verle).
O PT e Tarso nos governos municipal e Estadual
A gestão petista de 1999 a 2002 no Estado é um didático exemplo da cooptação como uma arma de governo para controlar os movimentos sociais. Nessa ocasião a ex-dirigente do CPERS Lucia Camini assumiu o posto de Secretária de Educação e não atendeu a pauta da greve dos trabalhadores em educação. Na avaliação do governo o pedido era de calma aos trabalhadores e na interna da categoria o sindicato foi desgastado por aqueles dirigentes que faziam correia de transmissão dos interesses do partido no governo.
Já Tarso na Prefeitura de Porto Alegre juntamente com Verle, deixou de herança o fim da bimestralidade dos trabalhadores municipários e contribuiu com o processo de sucateamento do serviço público. Foi na gestão petista também que teve início a corrupção envolvendo a Prefeitura e as empresas de coleta do lixo num esquema de norte a sul do Brasil conhecido mais tarde como máfia do Lixo onde o caixa 2 financiador das campanhas veio à tona.
A revitalização do centro e a repressão aos trabalhadores informais, carroceiros e carrinheiros também fizeram parte da política levada pela Prefeitura alinhada com as diretrizes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Não foi à toa que a gestão Tarso/Verle representou o fim de 16 anos consecutivos de administração do PT na Prefeitura da Capital. Foi um longo processo de cooptação e desgaste do movimento popular através de mecanismos como o Orçamento Participativo, que culminaram com a retirada de direitos dos servidores públicos, a repressão aos trabalhadores informais e o enfraquecimento das comunidades.
A volta do PT e a relação com o Banco Mundial e a Agenda 2020
Para os mais otimistas, o Partido dos Trabalhadores não somente volta ao governo depois de 8 anos, mas também leva a marca histórica de ser eleito no primeiro turno, além de garantir uma representação majoritária na Assembléia Legislativa. Porém, não devemos fazer uma análise reduzida ao último pleito, pois há uma estratégia neoliberal para o Rio Grande do Sul que vem sendo construída antes mesmo das penúltimas eleições, em 2006. Foi também jogar dentro das regras do jogo que fez a coligação de Tarso chegar ao Governo.
Em uma dessas articulações que na época foi chamada de Pacto Pelo Rio Grande, o PT fez consenso com as mudanças estruturais no Estado de caráter neoliberal e nos anos seguintes aprovou e militou o nefasto acordo com o Banco Mundial levado a cabo por Yeda Crusius.
Não devemos nos surpreender com os fatos. Tarso Genro, onze dias após o resultado das eleições, anuncia na sede do Banco Mundial em Brasília a continuidade dos acordos firmados pelo atual Governo do Estado com o organismo internacional. Além disso, faz o pedido de um novo empréstimo para 2011. Outro fato corrente, em menos de três semanas após o pleito, foi a presença de Tarso como convidado de honra do encontro da Agenda 2020, formalizando o apoio ao projeto.
Quando a arma do diálogo esconde a cooptação.
No discurso feito algumas poucas horas depois do resultado, Tarso disse que irá governar usando a arma do diálogo. Mesmo assim, o Governo de Tarso não representará de fato uma ruptura com o projeto político definido pela estratégia neoliberal.
O chamado governo da coalização de Tarso se diz utilizar da mesma tecnologia empregada por Lula, ou seja, a colaboração de classes. É a mesma engenharia do pacto social dos 8 anos de gestão petista no governo federal que será adotada no Estado. O mecanismo de acomodar os interesses enfraquece e seduz os de baixo para a cooptação, sem confrontar os planos dominantes que acabam prevalecendo.
Comparando com Yeda Crusius, a principal mudança é no método, pois se nos últimos 4 anos o tratamento dado aos movimentos sociais foi a repressão e a truculência, podemos esperar que os próximos serão marcados pela enrolação e pela cooptação. As reivindicações serão recebidas, mas não há garantia de que serão atendidas, pois o Estado está comprometido e endividado com o Banco Mundial. A partir de então, com o provável desgaste estará acompanhado o forte risco de cooptação, conforme o próprio PT em distintos níveis de governo já demonstrou historicamente ser uma forma superior de administração burguesa.
Fortalecer a solidariedade e a independência de classe pra derrotar o Banco Mundial
A tarefa que nos cabe enquanto lutadores do povo e militantes da esquerda com intenções reais de transformação é difícil, mas, necessária. Este novo governo não difere do anterior com relação às questões estruturais do Rio Grande. O grande esforço a ser feito é desmascarar a política neoliberal que está por trás do discurso de crescimento e das promessas de campanha.
Exemplo: por detrás dos prometidos investimentos no saneamento que acompanham a ampliação do tratamento de esgoto, do abastecimento de água e da viabilização de 100 novos galpões de reciclagem estão em curso outros interesses. Não é a toa que a galope está o processo de privatização da CORSAN a partir dos municípios e também a terceirização do serviço de coleta para as empreiteiras. Resistir às multinacionais da água e máfia do lixo é parte da garantia de um futuro digno para o povo em franca oposição as ordens do Banco Mundial e os respectivos governos eleitos.
Alguns direitos fundamentais como a manutenção do plano de carreira, o piso nacional para os professores e a Reforma Agrária, por exemplo, só serão garantidos plenamente confrontando os interessas do Banco Mundial que envolvem a implantação da meritocracia e a expansão do agronegócio, respectivamente. Na prática, não há diálogo entre modelos opostos, pois este novo governo demonstra ao discursar isso a intenção em cooptar para supostamente atender a todos.
Para além dos projetos de governo, reivindicações básicas como a garantia de um serviço público de qualidade para o povo, de um salário digno para os trabalhadores e uma efetiva implementação do SUS, são conquistas que contrapõem as políticas neoliberais das terceirizações, das OSCIPs e Fundações. Portanto, não há medida de conciliação possível quando os fatos em curso nos colocam na condição de resistência.
Em tempos de alívio ou euforia para muitos companheiros militantes do dia-a-dia com a chegada de Tarso ao Governo do Estado, firmamos a necessidade de uma aliança entre todos os setores das classes oprimidas para resistir ao neoliberalismo. Nosso maior inimigo está instalado no aparelho de Estado pelos próximos 30 anos e conta com o consentimento dos distintos governos e a cumplicidade dos meios de comunicação.
Ao contrário do que diz a mesma mídia que mentiu e omitiu a respeito do contrato junto ao Banco Mundial, a esquerda não chegou ao poder com a vitória. É hora de reinventar, reagrupar as forças e confluir para projetos comuns e objetivos de resistência palpáveis.

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