domingo, 19 de setembro de 2010

pelo poder muitos partidos perdem a identidade


Nem o mais cínico dos visionários poderia prever o que acontece no Pará como preparação para a eleição de outubro. Biografias, princípios e pudor foram deixados de lado na volúpia pelo poder. Os candidatos só pensam em si. E o eleitor: aceitará essa esbórnia?“Nhá Leonardina cinge o corpo com a faixa, invoca baixinho o caruana e corre em direção ao lago.

Anda pelo campo, apanha flor de batatarana, ouvi o grito do sapo apanhado pela cobra e o olha fixamente o gado. A pajé sentou à beira do lago, as mãos murchas e trêmulas, a voz tão cansada.
À noite Orminda encontra a Nhá Leonardina no chão, brincando feito criança, cantando baixinho:
Atin-nan-nan
Dinlindandan
A pajé perdia o poder da invocação. Aquelas palavras não tinham mais significação para o caruana com quem a velha Leonardina tivera uma vivência tão longa e tão misteriosa. E em vão Orminda tentava levantá-la e conduzi-la para a barraca.
Aeuals palavras, queixa ou súplica, onde o poder das palavras? Quem cortou a língua de feiticeira que os donos do mundo temiam?
Corria ao longo da praia. Perdeu a voz, perdeu a memória dos encantamentos, o fumo do cachimbo perdeu o dom do mistério. Para onde o fumo que enche as almas, acompanha os destino, embalsamo os feitiços, ronda em torno das sessões da meia-noite, puxa dos poços e dos lagos as vozes da vidência? Onde estás, Cavalo Marinho? Onde perdi meu corpo bonito, mais bonito que o de Orminda? Por que dei meu corpo para a pororoca, por que perdi, bichos do fundo, a minha força de enfeitiçar e de fechar os corpos contra o alheio enfeitiçamento?
Só era a simples lembrança da toada:

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